segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Para um amigo...

Certas atitudes em baixas latitudes.
Quando cada passo é um cheque mate.
Quando meu coração utópico
vira Acido sulfúrico.

Pelas praias estão os meus membros.
Perto do meu instinto selvagem ficaram-se
Os tormentos.
Cravados feito foice na terra,
Perdidos no mar do esquecimento.
Tantos bares, tantos pares, tantos muros.

Outros passos, silêncio apraz, poucas virtudes.
Consternado nessa Portugal do Sul,
De Áfricas constantes,
Cantada no idioma do Nazismo.
Vivendo numa rotina da China.
Tantos sonhos no sol de Platão.
Meus ais de copa rasgado na sala,
Pelo vento frio do Norte.
A morte anunciada ganhou asas,
Decolou para casa de dona Flor.

Como é linda a queda de uma folha.
Sinto-me no seu compasso.
Arrasto-me, me empresto, confesso.
Eu não presto, eu infesto o mundinho dos abutres.
Nos odores da trilha a sombra é meu espelho.
Mas protesto, ela reflete apenas o ilusório
No para raio do firmamento.
Discursos retóricos, semiótica do simbólico,

Cale-se tudo.
O barco está à deriva,
Os poemas de Neruda estão juntos.
Estão juntos meus vinte anos.
Meus dramas agudos.
Os três mal amados.
O golpe de 64.
Jorge Amado também vai junto.
Vai junto tudo que se partiu.
Toda voz algoz.
Até a puta que nos pariu.
Esse país não é mãe para ninguém...
Mas esse barco abarca o império Romano,
A Arca de Noé.
Que pena será tudo tumulo.
Tumulto mandou lembranças...
Esses são versos para um velho amigo.

FERNANDO PESSOA

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