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"Num repente, as janelas batem. Estremece com fúria a alvenaria do dentro. Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos. É curiosa a maneira como recobrem a retina e embaçam a visão - meio véu, meio teia - e me escurecem. Com a beleza do som do silêncio dos meus dias de chuva aprendi a ser noite. Quando em vez me embalam cantigas de morte. Sentimentos vazios, olhares perdidos - ando cheia deles. E mesmo que não haja vida nas palavras duras que me habitam hoje, ainda assim deixo que dancem. Escrevo porque a letra que me escorre aquece. Quando me toma pela mão e me arrasta insistente pra dentro das minhas entranhas, onde adormecido - por ora - mora o mais belo sol, me doura a alma. Com um sopro de brisa. E faz com que brotem as mais delicadas sementes, que planto sempre que em mim é primavera. A lágrima rega. E é por isso que eu chovo. Para que enraízem no terreno fértil do meu coração os cheiros mais doces e as mais belas cores que existem em viver. E é só por isso que eu vivo. Mesmo quando o breu do âmago faz revirar o dolorido estômago ulcerado eu sinto, e sinto tanto, que nada nesse mundo vai conseguir arrancar dos meus poros a resplandecência do azul inteiro de um céu de brigadeiro em pleno janeiro. Ainda é abril.
Até lá, tro-vejo."
Véu, por Sylvia Araujo
2 comentários:
Estava eu, passeando pelas belezuras que você tem aqui e: ai, meu deus! rsrs
Quanta honra, Cecília, ter um pedaço trovejante de mim aqui!
Obrigada, querida, pelo super carinho!
Uma delícia passear nesse jardim florido.
Beijoca enorme pra você
Sylvia, a honra é minha.. seja muito bem vinda.
Você que tem um jeito todo lindo pra contar as delícias da vida..
Um beijo no coração!
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