quinta-feira, 10 de junho de 2010


"Num repente, as janelas batem. Estremece com fúria a alvenaria do dentro. Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos. É curiosa a maneira como recobrem a retina e embaçam a visão - meio véu, meio teia - e me escurecem. Com a beleza do som do silêncio dos meus dias de chuva aprendi a ser noite. Quando em vez me embalam cantigas de morte. Sentimentos vazios, olhares perdidos - ando cheia deles. E mesmo que não haja vida nas palavras duras que me habitam hoje, ainda assim deixo que dancem. Escrevo porque a letra que me escorre aquece. Quando me toma pela mão e me arrasta insistente pra dentro das minhas entranhas, onde adormecido - por ora - mora o mais belo sol, me doura a alma. Com um sopro de brisa. E faz com que brotem as mais delicadas sementes, que planto sempre que em mim é primavera. A lágrima rega. E é por isso que eu chovo. Para que enraízem no terreno fértil do meu coração os cheiros mais doces e as mais belas cores que existem em viver. E é só por isso que eu vivo. Mesmo quando o breu do âmago faz revirar o dolorido estômago ulcerado eu sinto, e sinto tanto, que nada nesse mundo vai conseguir arrancar dos meus poros a resplandecência do azul inteiro de um céu de brigadeiro em pleno janeiro.
Ainda é abril.
Até lá, tro-vejo."

Véu, por Sylvia Araujo

2 comentários:

Sylvia Araujo disse...

Estava eu, passeando pelas belezuras que você tem aqui e: ai, meu deus! rsrs
Quanta honra, Cecília, ter um pedaço trovejante de mim aqui!

Obrigada, querida, pelo super carinho!

Uma delícia passear nesse jardim florido.

Beijoca enorme pra você

Cecília disse...

Sylvia, a honra é minha.. seja muito bem vinda.

Você que tem um jeito todo lindo pra contar as delícias da vida..

Um beijo no coração!